“Somos
devedores de parte do que somos aos que nos precederam. O dever de memória não
se limita a guardar o rastro material, escrito ou outro, dos fatos acabados,
mas entretém o sentimento de dever a outros, dos quais diremos mais adiante que
não são mais, mas já foram. Pagar a dívida, diremos, mas também submeter a
herança a inventário.” (Paul Ricoeur. A memória, a história, o esquecimento).
Mesmo
que a ideia de contar a história de Paraisópolis já tenha dado seus primeiros
passos (nesta nova etapa) apresentando uma descrição do município datada de 1878, não
podemos ignorar o fato de que há indícios que nossa região tenha sido habitada
por etnias indígenas, antes mesmo que os primeiros bandeirantes se atrevessem a
adentrar a região conhecida como “Sertão dos Cataguases”. Esses povos, em sua
maioria nômades, possivelmente os Cataguás (ou Cataguases), pertenciam ao
tronco linguístico Macro-Jê, entendidos como perigosos e beligerantes, e talvez
até canibais.
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índios cataguases |
O
Sertão dos Cataguases, como Minas Gerais era conhecida à época, era considerada
região proibida pela Coroa Portuguesa, e poucas bandeiras arriscavam-se a
explorá-la. Foi somente após 1670 que a Coroa Portuguesa passou a organizar expedições
mais robustas para explorar o Sertão Mineiro – a bandeira de Fernão Dias Paes
Leme, o “Caçador de Esmeraldas”, reunia aproximadamente 600 homens! Duas são as
rotas prováveis de Fernão Dias: uma, que partia da Vila de São Paulo de
Piratininga, descia o vale do Rio Paraíba até a região de Lorena, e de lá
atravessou para Minas Gerais pela Garganta do Embaú, indo se estabelecer onde
hoje é a atual Baependi; a outra rota, também partindo da Vila de São Paulo de
Piratininga, subiu a região dos rios Atibaia e Jaguari (literalmente, subindo a
rodovia Fernão Dias!). Seu objetivo era a região de Sabarabuçu e sua lendária
montanha de esmeraldas!
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pintura
retratando os índios brasileiros, do alemão Johann Moritz Rugendas
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Estudiosos
que se debruçaram sobre os mineiríndios (termo utilizado por Oilam José, em seu
livro “Indígenas de Minas Gerais – aspectos sociais, políticos e etnológicos”,
datado de 1965, para se referenciar aos indígenas que habitavam a região das
Minas Gerais colonial) reconhecem que há uma lacuna nos registros históricos
acerca da presença, ocupação e história, das tribos indígenas que viviam em
nossa região.
E é
justamente nessa investigação que nos dedicaremos nas próximas semanas!
Buscaremos
levantar as diversas fontes disponíveis na Internet para traçar um esboço do
que seria a pré-história de Paraisópolis: a história da presença humana antes
dos primeiros bandeirantes que exploraram nossa região, seguindo os passos de
Gaspar Vaz da Cunha. As
urnas funerárias descobertas em Conceição dos Ouros permitem supor que outros
indígenas por aqui também estiveram!
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Múmia de um indígena. Obra de Jean-Baptiste Debret. O documento
etnográfico acima mostra que o corpo foi sepultado no interior de uma igaçaba
cerâmica (urna funerária). Modelo de estrutura funerária comum identificada em
sítios arqueológicos no estado de Minas Gerais, incluindo o sul do estado
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Infelizmente, a ocupação territorial de
Paraisópolis nunca registrou indícios da presença humana antes dos
bandeirantes: nenhum caco de cerâmica, pintura rupestre, urna funerária...
Mas,
com um pouco de pesquisa e comparação das diversas fontes e relatos de
expedições que exploraram os Sertões dos Cataguases atrás do cobiçado ouro,
talvez seja possível traçar um perfil dos primeiros habitantes de Paraisópolis –
mesmo que nunca tenham se fixado por aqui, é válido supor que os primeiros
paraisopolenses eram indígenas!