Pesquisar este blog

sábado, 1 de junho de 2019

Antes das Minas Geraes...


... aqui era o “Sertão dos Cataguases”

Finalizamos a semana de pesquisas sobre os primeiros habitantes do Sul de Minas Gerais com um vasto material sobre os silvícolas que habitavam nossa região antes da chegada dos primeiros bandeirantes paulistas.

Instigados pelas urnas funerárias pré-coloniais descobertas na vizinha Conceição dos Ouros, e por outros registros arqueológicos, como pinturas rupestres em Extrema (sítio arqueológico em abrigo sob a rocha), sítios com fragmentos de cerâmicas indígenas em Itapeva (ambos estudados por pesquisadores da UFMG), e até mesmo registros de sítios arqueológicos estudados por uma empresa privada em Consolação (Pedra da Independência) e Paraisópolis!, os alunos se lançaram em pesquisas na internet sobre evidências da presença de tribos indígenas em nossa região.

Levaremos tempo para organizar o material pesquisado, mas há alguns pontos de convergência entre eles: aqui vivia o povo Cataguá, ou Cataguases, um dos 73 povos indígenas identificados no território mineiro, e possivelmente foi o grupo que mais resistiu à conquista dos bandeirantes. A prevalência de tais tribos sobre as demais era tamanha que originalmente a futura Capitania de Minas Gerais era conhecida como o “Sertão dos Cataguases”, e só deixou de ser assim conhecida após a criação da Capitania de Minas, separada de São Paulo em 1720.


(representação de uma aldeia indígena)


Integrante da bandeira de André de Leão, de 1601, que, seguindo o Vale do Rio Paraíba, adentrou nas terras desconhecidas dos Cataguases provavelmente pela Garganta do Embaú, o holandês Wilhelm Joos ten Glimmer (que tinha a função de prospectar minérios que indicassem a existência de ouro) descreveu os primeiros contatos com sinais de habitantes.

(Esboço Cartográfico do Caminho de São Paulo para o Sertão - Trecho da Serra da Mantiqueira – autor desconhecido)


Segundo o relato de Glimmer, a partir das cachoeiras do Paraíba do Sul, seguiram viagem “a pé, ao longo de outro rio que desce do lado ocidental e não se presta à navegação”. Após cinco ou seis dias de marcha, chegaram “à raiz de um monte altíssimo”, que transpuseram e chegaram a uma região de “campos mui descortinados”, cobertos por araucárias (o lado mineiro da Serra da Mantiqueira, atravessada a Garganta do Embaú?).



(representação das terras da Mantiqueira)


Três dias depois chegaram “a um rio que deriva do nascente” (o Rio Sapucaí?), encontrando “aqui e ali aldeias em ruínas”. Conforme relata Glimmer, “por aquelas solidões vagueavam com suas mulheres e filhos alguns selvagens que não tinham domicílio certo e não curavam de semear a terra”.

Isso confirma dados obtidos nas pesquisas de 2011 sobre o caráter nômade ou seminômade dos primeiros habitantes do Sul de Minas.

(Distribuição geográfica dos mineiríndios, segundo Oiliam José, no livro Indígenas de Minas Gerais, de 1965)


Segundo Oiliam José,

“os cataguases habitavam o Centro, o Oeste e o Sul de Minas Gerais até o século XVIII e subdividiam-se em diversas tribos de densa população. Na centúria seguinte, tiveram seu número sensivelmente diminuído até desaparecerem ou se misturarem aos brancos. Da região do Rio Sapucaí foram, antes, expulsos ou trazidos pelos bandeirantes para o Oeste e, junto do Rio Grande, sofreram terrível ataque desfechado em 1637 por Lourenço Taques.”

O extermínio dos cataguases impediu que mais informações sobre sua organização social, econômica e cultural, além de sua etnologia, chegassem até os dias de hoje.

Em tempo: a denominação que deram a si mesmos, cataguás, é formada pelas raízes tupis "ca + tu + auá", ou “gente boa”. Mais mineiro, impossível!