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sábado, 25 de maio de 2019

Primeira Fase – A Pré-História


“Somos devedores de parte do que somos aos que nos precederam. O dever de memória não se limita a guardar o rastro material, escrito ou outro, dos fatos acabados, mas entretém o sentimento de dever a outros, dos quais diremos mais adiante que não são mais, mas já foram. Pagar a dívida, diremos, mas também submeter a herança a inventário.” (Paul Ricoeur. A memória, a história, o esquecimento).

Mesmo que a ideia de contar a história de Paraisópolis já tenha dado seus primeiros passos (nesta nova etapa) apresentando uma descrição do município datada de 1878, não podemos ignorar o fato de que há indícios que nossa região tenha sido habitada por etnias indígenas, antes mesmo que os primeiros bandeirantes se atrevessem a adentrar a região conhecida como “Sertão dos Cataguases”. Esses povos, em sua maioria nômades, possivelmente os Cataguás (ou Cataguases), pertenciam ao tronco linguístico Macro-Jê, entendidos como perigosos e beligerantes, e talvez até canibais.


índios cataguases

O Sertão dos Cataguases, como Minas Gerais era conhecida à época, era considerada região proibida pela Coroa Portuguesa, e poucas bandeiras arriscavam-se a explorá-la. Foi somente após 1670 que a Coroa Portuguesa passou a organizar expedições mais robustas para explorar o Sertão Mineiro – a bandeira de Fernão Dias Paes Leme, o “Caçador de Esmeraldas”, reunia aproximadamente 600 homens! Duas são as rotas prováveis de Fernão Dias: uma, que partia da Vila de São Paulo de Piratininga, descia o vale do Rio Paraíba até a região de Lorena, e de lá atravessou para Minas Gerais pela Garganta do Embaú, indo se estabelecer onde hoje é a atual Baependi; a outra rota, também partindo da Vila de São Paulo de Piratininga, subiu a região dos rios Atibaia e Jaguari (literalmente, subindo a rodovia Fernão Dias!). Seu objetivo era a região de Sabarabuçu e sua lendária montanha de esmeraldas!


pintura retratando os índios brasileiros, do alemão Johann Moritz Rugendas


Estudiosos que se debruçaram sobre os mineiríndios (termo utilizado por Oilam José, em seu livro “Indígenas de Minas Gerais – aspectos sociais, políticos e etnológicos”, datado de 1965, para se referenciar aos indígenas que habitavam a região das Minas Gerais colonial) reconhecem que há uma lacuna nos registros históricos acerca da presença, ocupação e história, das tribos indígenas que viviam em nossa região.

E é justamente nessa investigação que nos dedicaremos nas próximas semanas!

Buscaremos levantar as diversas fontes disponíveis na Internet para traçar um esboço do que seria a pré-história de Paraisópolis: a história da presença humana antes dos primeiros bandeirantes que exploraram nossa região, seguindo os passos de Gaspar Vaz da Cunha. As urnas funerárias descobertas em Conceição dos Ouros permitem supor que outros indígenas por aqui também estiveram!


Múmia de um indígena. Obra de Jean-Baptiste Debret. O documento etnográfico acima mostra que o corpo foi sepultado no interior de uma igaçaba cerâmica (urna funerária). Modelo de estrutura funerária comum identificada em sítios arqueológicos no estado de Minas Gerais, incluindo o sul do estado


Infelizmente, a ocupação territorial de Paraisópolis nunca registrou indícios da presença humana antes dos bandeirantes: nenhum caco de cerâmica, pintura rupestre, urna funerária...

Mas, com um pouco de pesquisa e comparação das diversas fontes e relatos de expedições que exploraram os Sertões dos Cataguases atrás do cobiçado ouro, talvez seja possível traçar um perfil dos primeiros habitantes de Paraisópolis – mesmo que nunca tenham se fixado por aqui, é válido supor que os primeiros paraisopolenses eram indígenas!

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