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domingo, 31 de outubro de 2010

Libertas Quæ Sera Tamen

“Nem paulistas, nem mineiros: queremos independência!” – A história pouco conhecida dos movimentos separatistas do Sul de Minas.

A iniciativa dos municípios da região sul mineira descrita no post anterior não foi algo impensado, ou sem um respaldo mais amplo. Os primeiros projetos separatistas apresentados à Assembléia Estadual na década de 1840 preconizavam a anexação do Sul de Minas Gerais ao território de São Paulo. Mas o que alguns políticos mineiros pretendiam era a criação de uma nova província na região sul-mineira.
Em sessão da Câmara dos Deputados, a 29 de abril de 1843, o conselheiro Bernardo Jacinto da Veiga discursou pela divisão de Minas Gerais:
“Sou de opinião que a província de Minas deve dividir-se, e se aparecesse nesta casa um projeto compreendendo esse pedaço (comarca do Sapucaí), parte da comarca do Rio Verde, e mais alguma coisa para formar uma província, eu daria o meu voto com muita satisfação.”
Com essa idéia derrotada, por mais de uma década o separatismo sulmineiro ficou relegado à discussões menores.
Com a criação da província do Paraná em 1853, retomaram-se os debates sobre a divisão territorial de Minas Gerais e sobre a transformação da região sul-mineira em província independente. Em 1854, um dos deputados pelo Distrito Neutro, o conselheiro Francisco Octaviano, apresentou à Câmara um Projeto de Lei com as seguintes decisões:
Art. 1º As Comarcas do Sapucaí, Rio Verde e Três Pontas, e o município de Lavras, pertencentes à província de Minas, formarão uma nova província. Tendo por capital provisória o lugar que o governo designe, até definitiva resolução da assembléia provincial respectiva.
Art. 2º Os limites atuais daqueles pontos em relação às outras províncias, depois de verificados administrativamente, serão os limites da nova província (MONITOR SUL-MINEIRO, 13/07/1873).
Mais uma vez o separatismo sulmineiro foi derrotado pelos interesses do governo.
Em 1862, o deputado Dr. Evaristo Ferreira da Veiga apresentou, sem êxito, Projeto de Lei que dividia Minas Gerais em duas partes e criava uma nova província com a denominação de Minas do Sul. Suas disposições eram as seguintes:
Art. 1º Fica elevado à categoria de província, com a denominação de província de Minas do Sul, o território da província de Minas Gerais, compreendido entre as do Rio de Janeiro, São Paulo e Goiás, tendo por limites o rio Turvo até sua confluência no rio Grande; este abaixo até as contravertentes do Rio São Francisco, a alcançar a cordilheira que divide as águas do mesmo rio São Francisco das do rio Paranaíba; e este abaixo desde sua nascente na mesma cordilheira até os limites da província de Goiás.
Art. 2º A nova província terá por capital a cidade da Campanha da Princesa, enquanto a assembléia respectiva não decretar o contrário.
Art. 3º A província de Minas do Sul dará três senadores e dez deputados à assembléia geral; sua assembléia provincial constará de 28 membros. Dos 10 atuais senadores da província de Minas Gerais serão designados por parte, em sessão do senado, depois de sancionada esta lei, os três que serão considerados da província de Minas do Sul.
Art. 4º Os atuais 3º e 4º distritos eleitorais da província de Minas Gerais darão cada uma 2, em vez de 3 deputados e o 7º continuará a dar 2; e a mesma província dará sete senadores e sua assembléia provincial terá 35 membros.
Art. 5º A Província de Minas do Sul fica dividida em dois distritos eleitorais: o 1º compreendendo os municípios da Aiuruoca, Baependi, Cristina, Itajubá, Jaguari, Pouso Alegre, Caldas, Alfenas, Campanha, Três Pontas e Lavras; e o 2º as de Passos, Jacuí, Uberaba, Desemboque, Araxá,  Campo Grande, Prata, Bagagem e Patrocínio; continuando a ser apuradora do 1º distrito a câmara municipal da Campanha da Princeza e será do 2º a do Araxá.
Art. 6º O governo fica autorizado para criar na província de Minas do Sul administração dos correios, tesouraria de fazenda, que será encarregada também da arrecadação e administração das atuais rendas provinciais enquanto a assembléia respectiva não decretar o contrário, e as secretarias de polícia e da presidência, subsistindo a organização desta enquanto a mesma assembléia não alterá-la (MONITOR SUL-MINEIRO, 1873).
Outro Projeto de Lei, apresentado pelo deputado Américo Lobo, a 11 de Julho de 1868, continha as seguintes disposições:
Art. 1º Ficam elevados à categoria de província, com a denominação de província do Sapucaí, o município de Lavras e os que compõem as comarcas de Baependi, Jaguari, Sapucaí e Rio Grande, da província de Minas Gerais, menos o termo de Pium-í.
Art. 2º A cidade da Campanha da Princesa será a capital da província do Sapucaí, enquanto a respectiva assembléia não deliberar o contrário.
Art. 3º A província do Sapucaí dará 2 senadores e 5 deputados à Assembléia Geral; sua Assembléia Provincial comporá de 28 membros. Dos 10 senadores da província de Minas Gerais serão designados por sorte, em sessão do Senado, depois de sancionada a presente lei, os que serão considerados da província do Sapucaí.
Art. 4º Dará 2 deputados à Assembléia Geral o atual 3º distrito da província de Minas Gerais, cuja Assembléia Provincial constará de 45 membros.
Art. 5º A província do Sapucaí fica dividida em dois distritos eleitorais, dos quais o 2º dará dois deputados à Assembléia Geral e doze à Provincial: o governo designará os respectivos colégios eleitorais e câmaras apuradoras.
Art. 6º O governo fica autorizado para criar na província do Sapucaí a administração dos correios, tesouraria da fazenda, que será também encarregada da administração e arrecadação das atuais rendas provinciais, enquanto a respectiva assembléia não decretar o contrário, e as secretarias da polícia e presidência, subsistindo à organização desta, enquanto a mesma assembléia não altera-la. [...] (MONITOR SUL-MINEIRO, 20/07/1873).
Um último projeto separatista foi apresentado à Câmara dos Deputados pelo Dr. Olímpio Valladão, a 8 de julho de 1884. Seu teor e forma não diferiam dos projetos anteriores, sendo que a circunspeção proposta para a nova província limitava-se apenas às comarcas do Sul de Minas Gerais.

sábado, 30 de outubro de 2010

Os Primeiros Anos: Entre a Cruz e a Espada

Capítulo I – Um Cavaleiro Imperial no Paraíso

Manoel Francisco Barbosa Sandoval, Cavaleiro da Imperial Ordem da Rosa

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Condecorado por D. Pedro II aos 2/12/1850

Dizem que a história é composta e contada por fatos, mas o que seriam dos fatos se não fossem os personagens que ocasionam, criam, vivem, os fatos?

Gaspar Vaz da Cunha, José Alves de Lima e Francisco Vieira Carneiro, sem dúvidas, são os pilares sobre os quais se ergueu Paraisópolis (sem, é claro, nos esquecermos daqueles que, ao lado dos referidos, lutaram pelo desbravamento destas terras e pela construção da primeira igreja e da vila), mas ainda nos primeiros anos de existência recebemos como morador um ilustre personagem: Manoel Francisco Barbosa Sandoval, Cavaleiro da Imperial Ordem da Rosa, condecorado pelo próprio Imperador D. Pedro II.

Nascido em São Gonçalo do Sapucaí, MG, em 1790, alista-se no Exército Imperial e, como militar, percorre boa parte da região Sul do País, casando-se em 1809 com Eufrazia Joaquina Rosa e constituindo família. Por volta de 1840 retorna à região sul mineira

Em 1850, aos 2 de Dezembro, foi nomeado, por decreto da mesma data, Cavaleiro da Ordem da Rosa Imperial pelo Imperador D. Pedro II. Do Arquivo Nacional, Rio de Janeiro, Notação Ordens Honoríficas, Ordem da Rosa :

"Hei por bem nomear Cavalleiros da Ordem da Rosa as pessoas mencionadas na relação que com este abaixo assignado pelo Visconde de Montalegre do Meu Conselho de Estado e Ministro e Secretario de Estado dos Negocios do Império.

Palacio do Rio de Janeiro em dois de Dezembro de mil oitocentos e cincoenta, vigésimo nono da Independência e do Império.

P [letra P rebuscada, assinatura do Imperador D. Pedro II]

Visconde de Montalegre

Reg,do a f. 44 do L.o 2ð
de sism.es
2 10.bro 1850 [2 de Dezembro de 1850]

Relação das pessoas nomeadas Cavalleiros da Ordem da Rosa a que se refere o Decreto desta data.

Manoel Francisco Barboza Sandoval --- Minas".

Sua participação na história de Paraisópolis está ligada à um pitoresco episódio: queríamos ser paulistas! Em 1853, ocupando os cargos de Subdelegado, Primeiro Suplente e Juiz de Paz em São José do Paraíso, em 6 de novembro de 1853, é citado numa petição para passar a cidade para a Província de São Paulo. Do livro "Paraisópolis de Ontem e Hoje", de João Lopes de Paiva , 1982.

“Estava assim redigida a petição da Freguesia de São Jose do Paraíso solicitando a anexação do seu território à Província de São Paulo:
’Ilustríssimos Senhores Membros da Assembléia Legislativa Provincial de São Paulo.
Os moradores da Freguesia de São Jose do Paraíso do Município de Pouso Alegre da Província de Minas Gerais abaixo assinados, anelando fruir as vantagens que a solicitude do Governo dessa Província tem proporcionado aos seus habitantes, mui respeitosamente vem procurar a coadjuvação dessa ilustrada Assembléia perante a Augusta Assembléia Legislativa do Império afim de adotar-se a medida que há de realizar os desejos e as vistas dos abaixo assinados.
A posição topográfica, as relações comerciais religiosas e familiares reclamam altamente esta medida.
Distante 25 léguas apenas dessa Capital e mais de 80 da sede do Governo de Minas, pertencendo a São Paulo, os abaixo assinados esperam receber o desenvolvimento que o comércio, a agricultura e a indústria pode trazer o alívio de anti-econômicos e pesados tributos, a abertura de nossas vias de comunicações, os consertos das que existem atualmente abandonadas e principalmente a eficaz proteção à vida, à segurança individual e à propriedade até aqui tidas em pouca consideração.
Uma divisa natural e por conseguinte incontestada deve ser sempre que for possível procurada pelos Legisladores em matéria de divisões, e pois os abaixo assinados tomam a liberdade de para divisas das duas Províncias o Rio Sapucaí, compreendendo-se na de São Paulo todo o território situado aquém deste rio, e as povoações que, para glória dos antigos paulistas são ainda hoje o vivo testemunho do começo de suas intrépidas e virtuosas excursões.
Os abaixo assinados confiam que a Augusta Assembléia Geral adotará a medida reclamada pelos interesses do país se essa Assembléia Provincial houver por bem coadjuvá-los em suas justas e incontestáveis pretensões. Deus guarde por muitos anos aos Senhores Deputados da Assembléia Legislativa Provincial de São Paulo.
São Jose do Paraíso, 6 de Novembro de 1853.’
Assinaturas :
Manoel Francisco Barbosa Sandoval, Cavaleiro Imperial da Ordem da Rosa , Sub-delegado 1º Suplente e Juiz de Paz.
Joaquim Francisco de Toledo.
Tenente Coronel Jose Vieira Carneiro.
João Pedro Pereira.
Capitão Jose Silvestre Machado.
João Bernardino de Castro.
Jose Justino Ribeiro.
Leandro Barcelos Bueno de Toledo.
Jose Fernandes da Silva Santos.
Francisco Floriano Pinto.
Mariano da Mota Paes.
Jose Thomaz Pereira Goulart.
Januário Rodrigues Mendes.
Francisco Joaquim de Almeida.
E mais 63 outros assinantes perfazendo 77 assinaturas. Todavia não logrou efeito essa manifestação do Sul de Minas em que tomaram parte Jaguary, São Caetano da Vargen Grande, Itajubá, Pouso Alegre, Ouro Fino, Campo Místico, Nossa Senhora da Consolação do Capivary, Cambuí, Bom Retiro, Santa Rita da Extrema e São Jose do Toledo".

(Paraisópolis de Ontem e Hoje, João Lopes de Paiva, cap. 18: “A vontade de ser paulista”, pág. 36)”

Em 25 de Agosto de 1866, viúvo e com 76 anos de idade, veio a falecer e foi sepultado no Cemitério de Paraisópolis.

Livro de Óbitos nº 1, da Freguezia de São Jose do Paraíso, MG:

“Aos vinte e cinco de Agosto de mil oitocentos sessenta e seis, neste Cemitério, foi sepultado o cadáver de Manoel Francisco Barboza Sandoval envolto em preto e de idade de setenta e seis annos, viuvo, de que para constar mandei fazer este termo.
O Vigr.o João Alves Carv.lho Guimarães.”

Poucas palavras encerraram a trajetória de um Cavaleiro Imperial que tentou fazer do Sul de Minas o Norte de São Paulo…

(fontes de pesquisas complementares: “A origem da família Barbosa Sandoval”, disponível em: http://rlavodnas.blogspot.com/; “Sandoval em Paraisópolis e Paraibuna”, disponível em: http://paraisopolisparaibuna.blogspot.com/; ambos acessados em 30/10/2010)

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Primeira descrição do município de Paraisópolis (1878)

71º MUNICÍPIO - Vila de São Jose do Paraíso.

A freguesia de São José do Paraíso, conhecida em outro tempo pelo nome de Campo do Lima, foi desmembrada do município de Itajubá e elevada a vila de 1872 a 1873. Pertence à comarca de Itajubá, e dista da Corte 70 léguas e de Ouro Preto 78. Tem um colégio eleitoral composto de 53 eleitores.

(fotografia tirada a partir da extremidade do atual calçadão; à direita, o Mercado Municipal, em primeiro plano, e pouco adiante o prédio da Cadeia e Fórum, onde hoje se localiza a Fonte Luminosa )

Esta vila está colocada em uma formosa localidade, rodeada de verdejantes colinas: todas elas como que se curvam ante aquela sobre cujo extenso platô se ergue risonha e florescente a povoação.


(fotografia tirada a partir de uma das torres da Igreja do Rosário, localizada onde hoje está a praça Centenário / Clube Recreativo)

A vila contém perto de 300 casas, além da cadeia e três igrejas. Tem seis ruas e quatro praças regulares. Há na vila três aulas de instrução primária. Há também ali uma grande fábrica de vinho, licores e outros produtos alcoólicos. O vinho não é perfeito, mas espera-se que com esforços e capricho se tornará excelente.


(fotografia do prédio onde funcionava a cadeia e o fórum da cidade, mais tarde Clube Literário e Recreativo "Bueno de Paiva", demolido para dar lugar à Fonte Luminosa, da praça Coronel José Vieira - disponível no Arquivo Público de Minas Gerais)

A população do município eleva-se a 21.163 almas. A sua lavoura não é má; planta-se muito fumo e já se começa a plantar o café e a cana; produz muito bem a uva e toda casta de cereais. Exporta muito gado, porcos, toucinho e queijos.

Seu comércio é sofrível e importa muita fazenda, louça, ferragens, molhados, sal e tudo o mais que compõe o nosso gênero de negócio.

O pessoal do município é excelente e composto de homens ricos, civilizados e religiosos.

O número de escravos matriculados na coletoria do município de Paraíso foi de 4.164, e o fundo de emancipação que lhe foi distribuído é de 8:292$789.

O número de ingênuos nascidos em três freguesias do município até o fim de 1876 foi de 371, dos quais faleceram 102.

O município divide por um lado com o de Itajubá; por outro com os de Pouso Alegre e Ouro Fino; e por outro com o de Jaguari.

Compõe-se das freguesias e distritos seguintes:
1ª) freguesia de São José do Paraíso;
2ª) freguesia de Capivari;
3ª) freguesia de São João Batista das Cachoeiras;
4ª) distrito de Santana do Sapucaí-Mirim;
5ª) distrito de Nossa Senhora da Conceição dos Ouros.

(“Tratado de geografia descritiva especial da província de Minas Gerais” / José Joaquim da Silva / 1878)

Os Primeiros Anos (1826 - 1850)

O local outrora conhecido como Campo do Lima ganhou, durante esse segundo quartel do século XIX, outras denominações: o vento que aqui sempre soprou batizou-o inicialmente de São José da Ventania; em 1831, graças às saúvas que proliferavam por essas terras, foi chamada de São José das Formigas.

Administrativamente submissa à Vila de Pouso Alegre, respondia à Diocese de São Paulo nas questões religiosas, o que evidenciava a disputa, ainda mal resolvida, de divisas entre as Províncias de Minas Gerais e São Paulo.

No pequeno povoado, de ruas de terra e casas de taipa, iniciava-se o comércio com outras localidades, graças à abertura das estradas que ligavam as duas províncias.

O Guarda Mor Carneiro exercia o poder político, e a cada ano novos habitantes chegavam. Estabelecimentos comerciais, fazendas, escravos, animais de criação, pequenas casas e extensões de terras cultivadas compunham a paisagem, como acontecia em outros lugares do Brasil em seus primeiros anos de Império independente.

(Detalhe da capa provisória do livro "Paraisópolis de Ontem e Hoje", de João Lopes de Paiva, que acabou sendo substituída pela capa com a imagem da Pensão Machado)

Alvará da Criação da Capela de São José das Formigas

Em 22 de Outubro de 1827, Dom Pedro I concede o Alvará para a construção da capela por solicitação dos moradores do Sapucaí Mirim, nome da região onde estava assente o Campo do Lima, território da Freguesia de Pouso Alegre, sendo presidente da Província de Minas Gerais o Dr. João José Lopes Mendes Ribeiro.

O decreto foi referendado pelo Ministro do Império, Visconde de Caravelas, expedindo o ato abaixo transcrito:

“FAÇO saber que, requerendo-me os moradores do Sapucaí Mirim e irmãos devotos de São José, colocado na capela do mesmo nome, ereta na Freguesia de São José, colocado na capela do mesmo nome, ereta na Freguesia de Pouso Alegre, bispado de São Paulo, a graça de lhes aprovar a Ereção da dita capela. O que, visto a resposta do Procurador Geral das Ordens, hei por bem aprovar e confirmar a ereção da mencionada capela, revalidando com esta mesma aprovação e validade com que a mesma se acha ereta, ficando salvos os direitos paroquiais e os da fábrica da Igreja Matriz e inibido o uso de sepulturas dentro do templo, mandando aos procuradores das Capelas respectivas e demais pessoas a quem seu consentimento pertencer o cumpram a guarde como nela se contém, sendo passada pela Chancelaria da Ordem, e valerá posto que o seu efeito o haja de declarar mais de um ano sem embargo de ordenação em contrário.
O Imperador mandou pelos Ministros do seu Conselho e o Deputado à Mesa da Consciência e Ordem, Cláudio Joaquim Freire o fez.
Rio de Janeiro, 22 de Outubro de 1827, sexto da Independência e do Império.
Pedro I – Imperador”

Após seis meses do decreto do Imperador Dom Pedro 1, em 17 de maio de 1828, ante o Alvará do Imperador, o Bispo de São Paulo, Dom Manuel, baixou o Cumpra-se e foi oficialmente ereta a Capela de São José das Formigas, registrando-se o mesmo Alvará em 13 de Janeiro de 1829, no livro do Tombo da Freguesia de Pouso Alegre pelo então vigário Cônego João Dias de Quadros Aranha, que se tornou o primeiro capelão da neo capela, inaugurando-a.

A igrejinha de São José das Formigas, tempos mais tarde, se tomou de importância, porque seu primeiro capelão foi eleito Senador do Império, e em 1845 tomando parte na Assembléia que outorgou a maioridade a Dom Pedro II.

(Paraisópolis de Ontem e Hoje, João Lopes de Paiva)

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

O Fundador

Francisco Vieira Carneiro e Maria Joaquina da Silva

Francisco Vieira Carneiro nasceu por volta de 1768, em Pouso Alto. Era filho do capitão Antonio Vieira Carneiro e Inácia Maria da Silva. Casou-se com Maria Joaquina da Silva, filha de Joaquim Fernandes de Freitas e Maria Leme da Silva, em 01/07/1797, em Resende.

No verbete sobre Paraisópolis, Waldemar Barbosa, em seu "Dicionário Histórico-Geográfico de Minas Gerais", cita o guarda-mor Francisco Vieira Carneiro:

"PARAISÓPOLIS - José Alves de Lima e sua família foram os primeiros moradores do local que, durante algum tempo, foi conhecido por 'Campo do Lima'. Foi o mesmo José Alves de Lima que, por volta de 1826, doou o patrimônio para a futura capela de São José. O verdadeiro fundador da povoação, entretanto, foi o guarda-mor Francisco Vieira Carneiro, a cujos esforços se deve a construção da capela, logo após a doação do patrimônio. Na tarefa da construção da capela, foi ele auxiliado por José Bernardes Rangel, João Antônio Pereira, Bibiano Teixeira Pinto, Zacarias Pereira Lima, Francisco José Uchoa, Manuel Garcia Guedes e Carlos Joaquim Pereira Guerra. Francisco Vieira Carneiro devia ser homem de influência, pois, logo após a construção da capela, dedicada a S. José, D. Pedro I assinava o alvará de 22 de outubro de 1827, aprovando e confirmando a ere-ção da capela; o referido alvará acha-se registrado no Livro I de Tombo da paróquia de Pouso Alegre".

Além do filho Francisco Vieira da Silva, também são conhecidas, ao certo, duas filhas do casal:
i) Josefa Maria da Silva, casada com seu primo Francisco Fernandes da Silva, filho de João Fernandes da Silva e Francisca Maria de Siqueira.
ii) Mariana Teresa de Jesus, casada com Joaquim Gomes dos Santos, filho de José Gomes dos Santos e Maria Joaquina.

Há alguns outros prováveis filhos, mas sem confirmação documental.

O guarda-mor Francisco Vieira Carneiro foi um dos fundadores de Paraisópolis-MG, possuindo terras na região de Cristina a Paraisópolis (MG). Estava vivo por volta de 1839, mas faleceu antes de 1854.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Os Bandeirantes

Ao travarem os primeiros contatos com os indígenas do litoral brasileiro, os portugueses tiveram a cobiça despertada por “pedras brilhantes e amarelas” encontradas com os nativos.

 (Travessia do Rio Paraíba)
 
Sabedores do valor da riqueza mineral que poderia estar escondida atrás das verdejantes serras, assim que se estabeleciam, os colonizadores tratavam de organizar expedições de reconhecimento do território e de exploração. Era a corrida do ouro...
 
A Corte Portuguesa tentava intimidar os exploradores não-oficiais, para que não perdesse o controle e o direito sobre as riquezas a serem descobertas. Mas histórias contadas por nativos capturados e por corajosos exploradores solitários, sobre o amarelo faiscante do leito dos rios e das serras recobertas de preciosidades, foram mais fortes do que a Coroa.
 
Assim nasceram as “Bandeiras”, incursões ao interior inexplorado, em geral organizadas pelos paulistas sediados na Vila de São Paulo de Piratininga, ou nas nascentes vilas do Vale do Paraíba.
 (Batalha entre bandeirantes e índios)
 
Começava o tempo dos heróis e vilões: eram os “Plantadores de Cidades” desbravando e conquistando o interior do Brasil, à custa do massacre e escravização dos nativos.

(Terras da Serra da Mantiqueira)

domingo, 6 de junho de 2010

Período Colonial

Desde o descobrimento do Brasil, a região do Sul de Minas passou por várias denominações e esteve subordinado à diferentes centros de poder: iniciou pertencendo à Capitania de São Vicente, que deu origem à Capitania do Rio de Janeiro. À essa época, aqui eram os “Sertões dos Cataguases”, local inóspito e temido pelos poucos viajantes que se aventuravam nos rincões profundos da terra recém-descoberta.


Desde o século XVI, expedições de bandeirantes desbravaram o território das Minas, descobrindo ouro e outras riquezas. No início do século XVIII, para ter mais controle sobre o ouro que estava sendo descoberto na região das Minas dos Cataguases, e foi criada a Capitania de São Paulo e Minas do Ouro, desmembrada da Capitania do Rio de Janeiro.

Mapa das Capitanias do Brasil em 1707

Após a revolta de Vila Rica (1720), a Capitania de São Paulo e Minas do Ouro foi desmembrada, originando a Capitania de São Paulo e a Capitania de Minas Gerais, com sede em Vila Rica, atual Ouro Preto.

Mapa das Capitanias do Brasil, em 1789


As Minas eram gerais

Minas Gerais era o Sertão dos Cataguases, um sertão cobiçado, pesquisado e mapeado pelas várias bandeiras que variam essa região vasculhando suas serras, navegando seus rios, revolvendo suas terras em busca das suas incalculáveis riquezas. Desbravada e demarcada pelas bandeiras que buscavam ouro e muitas outras que vinham para cá para guerrear e escravizar índios, sempre voltando para a sua origem, a região central de Minas permanecia inexplorada. A essa época, Minas passou de o Sertão dos Cataguases para Sertão das Minas dos Cataguases, Sertão das Minas do Ouro que chamam Gerais e, finalmente, Minas do Ouro.


Da Capitania de São Vicente à Capitania de Minas Gerais

Poucos anos após ser criada, em 22 de janeiro de 1532 por Martim Afonso de Sousa, a Vila de São Vicente tornou-se capital da Capital e mesmo nome. Esse território estendia-se do litoral sul do que hoje é o Estado de São Paulo até o sul do Rio de Janeiro. Mais tarde, a Capitania de São Vicente foi dividida em duas e a parte ao norte se tornou a Capitania do Rio de Janeiro, que englobava territórios de São Paulo, Minas Gerais, Góias, Mato Grosso, Paraná e Santa Catarina.

Em 3 de novembro de 1709, como consequência da Guerra dos Emboabas (1707-1709), que demonstrara a fragilidade do controle da Coroa Portuguesa sobre a região das recém-descobertas minas de ouro (visto que o governador da capitania de São Vicente residia na capitania do Rio de Janeiro - esta separada daquela em 1567), a antiga capitania de São Vicente foi transformada em Capitania de São Paulo e Minas do Ouro, separada da do Rio de Janeiro.


O primeiro governador da nova Capitania, Antônio de Albuquerque Coelho de Carvalho, pacificador do conflito, estabeleceu as primeiras vilas: Vila Rica (atual Ouro Preto) e a Vila de Nossa Senhora de Sabará (atual Sabará). Posteriormente, a região foi dividia em três Comarcas: Ouro Preto (com sede em Vila Rica); Rio das Velhas (com sede em Sabará); e Rio das Mortes (com sede em São João del-Rei).



("Mapa da Capitania de Minas Geraes, com a deviza de suas comarcas", concluído em 1778, trabalho de José Joaquim da Rocha)

(Carta do Termo de Villa Rica, 1766)


(Mapa da Comarca do Sabará / Levantado por Bernardo Jozé da Gama - Na sequência do nome do autor contém a seguinte informação: "Em cumprimento da Régia Provizão do Desembargo do Paço de 25 de Agosto de 1813, seguindo a divizão ultimamente ordenada pelo Alv. de 17 de Maio de 1815. Vão os pontos de latitude segundo observação do Jezuita Padre Capacy". - A margem inferior do mapa encontra-se aparada ocultando parcialmente uma possível autoria, podendo no entanto ler-se "B.R. Baker Lithg. The writing by J. Netherclift". - Contém legenda.)


(Parte do mapa de José Joaquim da Rocha, de 1778, destacando a Comarca do Rio das Mortes, que corresponde ao atual Sul de Minas)


A partir de cerca de 1725 serão descobertos na região diamantes, consolidando a capitania como a principal economia da colônia à época, suplantando a da Região Nordeste do Brasil. Pela ação desbravadora dos bandeirantes a nova capitania passou a contar com um vasto território, que abrangia os sertões de São Paulo, Paraná e Santa Catarina, para o sul, e de Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso para oeste (ver Mapa das Capitanias, de 1707).

Como consequência da Revolta de Vila Rica (1720), além do adiamento da instalação da Casa de Fundição, materializou-se a autonomia administrativa das Minas, uma vez que, em 12 de setembro desse ano, D. João V desmembrou-a, instituindo a Capitania das Minas Gerais e a Capitania de São Paulo.


(Planta Geral da Capitania de Minas Gerais)


(Mapa da Capitania de São Paulo - legenda no mapa)

Na primeira foi então criada mais uma Comarca: Serro do Frio (com sede em Vila do Príncipe, atual Serro). O primeiro governador da nova capitania das Minas Gerais, D. Lourenço de Almeida tomou posse a 18 de agosto de 1721 na vila do Carmo. Uma de suas primeiras providências foi a instalação da sede do governo em Vila Rica.



(Mapa da Comarca do Serro do Frio, José Joaquim da Rocha)


Posteriormente, em 1748, no contexto da demarcação dos limites entre a América Portuguesa e a Espanhola, as regiões de Mato Grosso e Goiás foram desmembradas da de São Paulo, sendo criadas duas capitanias autônomas: a capitania de Mato Grosso, com sede em Vila Bela da Santíssima Trindade e a de Goiás, com capital em Vila Boa de Goiás.


A partir de 1772, a Coroa Portuguesa assumiu integralmente a produção diamantífera nas Minas Gerais, criando uma empresa para tal fim, a Real Extração dos Diamantes.




Período Pré Colonial

Primeiras evidências de ocupação humana na região do Sul de Minas Gerais


Sem comprovação ainda, estima-se que as pinturas rupestres encontradas em Extrema (Pedra do Índio) e Tocos do Moji, datam de mais de 2500 anos atrás. As escavações arqueológicas em Conceição dos Ouros revelaram materiais de cerâmica (utensílios, urnas funerárias, etc.) datando em torno de 700 anos atrás.


(Pintura rupestre encontrada na cidade de Tocos do Moji - Sul de Minas)

(Pintura rupestre encontrada na Pedra do Índio - Extrema, sul de Minas)

(Utensílio de barro de origem indígena encontrado em sítio arqueológico em Conceição dos Ouros, sul de Minas)

(Urna funerária de barro de origem indígena encontrado em sítio arqueológico em Conceição dos Ouros, sul de Minas)

"Os homens da pré-história mineira não moravam em cavernas, apenas aproveitavam casualmente as suas partes abrigadas, porém iluminadas, para se proteger das chuvas ou do sol quente. Em zonas mais frias, o sul de Minas e o Alto São Francisco (Pains e Arcos), faziam casas subterrâneas. Escavavam o solo a três metros de profundidade, abrindo valas de até 20 metros de diâmetro, e recobriam o local com um teto" (Revista Minas Faz Ciência Nº 11 - jun a ago de 2002).


"Essas aldeias de casas subterrâneas indicam um novo modo de vida introduzido pelos grupos de língua Jê, pois se encontram casas isoladas ou agrupadas em conjuntos, subterrâneas e semi-subterrâneas, elípticas, desde o sul de Minas Gerais até o Rio Grande do Sul" (Etnoconhecimento e saúde dos povos indígenas do RS).

Embora ainda sem estudos detalhados, acredita-se que a população indígena que habitava essa região eram denominados “Cataguases” pelos bandeirantes paulistas (que usavam genericamente esse termo para designar qualquer grupo não tupi que habitasse florestas – o termo significa “aquele que vive no mato”, sendo uma derivação de caá – “campo, mata ou árvore”, – “duro ou bruto”, e guá – “vale”).

Outros estudos indicam que os grupos aqui existentes seriam os Coroados (Kaiagang), Carapós e Puris (Os Sertões Proibidos da Mantiqueira: desbravamento, ocupação da terra e as observações do governador Dom Rodrigo José de Meneses). Em referências ao bandeirante Fernão Dias Pais, citam-se índios Mapaxos. Já o bandeirante Matias Cardoso de Almeida, capitão-mor e adjunto de Fernão Dias Pais, é citado como tendo expulsado os “terríveis índios” lopos da região de Atibaia e Sapucaí (?).



Índios Coroados (Coroatos e Corotos) - Litogravura de Rugendas.


Índios Puris - Litogravura de Rugendas.

sexta-feira, 26 de março de 2010

Origens

Como várias outras cidades das Minas Gerais, Paraisópolis teve a origem de seu povoamento durante as Bandeiras, incursões dos paulistas na região do ouro. Consta que Gaspar Vaz da Cunha, o Oyaguara ("cão feroz"), bandeirante paulista que, partindo do Vale do Paraíba, procurou atravessar a Serra da Mantiqueira em busca de um novo caminho para as minas de Itajiba (atual Itajubá), porém, no meio do caminho fixou-se na região do Sapucaí, pois ali dizia ele ter encontrado um paraíso na terra, em razão da fertilidade do solo, da salubridade da água e de um clima incomparável.


Bandeirantes paulistas - ilustração representativa

Como nunca foi feito um estudo histórico profundo sobre o assunto, não há como atribuir ao bandeirante o lançamento da pedra fundamental de Paraisópolis, mas certamente ele abriu caminho para o estabelecimento do primeiro núcleo de povoamento.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Gênese

Como contar uma história...

A idéia do projeto sobre a história da cidade de Paraisópolis é coisa antiga... Há pelo menos uns dois anos venho tentando viabilizar e mobilizar os alunos para que o Trabalho de Graduação do Curso Técnico de Informática fosse um projeto multimídia que explorasse a história da cidade e seu povo. Em outras oportunidades não houve o engajamento que eu esperava dos alunos, embora alguns tenham demonstrado forte interesse no assunto.

O material sobre a história da cidade disponível na internet é superficial e, na maior parte, repetitivo. Poucas imagens, em geral mais recentes, completam a dificuldade de quem deseja se aprofundar no conhecimento sobre a história da cidade.


Além do mais, obras de referência sobre a cidade são poucas e relativamente desatualizadas; o principal livro escrito sobre a cidade foi "Paraisópolis de Ontem e Hoje", de João Lopes de Paiva, em 1982 (quase 30 anos atrás!). Consegui reunir material escrito, recorrendo a amigos que me forneceram trabalhos escolares, aos alunos que me abasteceram com inúmeras fotos, mas estamos ainda na gênese de nosso projeto, pois há muito o que se fazer, organizar e descobrir.

Acredito que com o esforço do grupo, atingiremos o objetivo de criar um projeto interessante, rico e abrangente, e principalmente, com isso homenagear aqueles que nos ensinaram a amar essa cidade (no meu caso, meus avós, Benedito Lopes Palma e Erotides Pereira Palma).

Como uma prévia, algumas fotos:


(o prédio do Fórum e Cadeia Pública, onde atualmente se encontra a fonte da Praça Cel. José Vieira)

(vista da Rua São José: à direita o Mercado Municipal, tendo ao fundo a Igreja do Rosário, que situava-se onde atualmente é a Praça do Centenário e o Cemitério Antigo)

(Estação Ferroviária, atual Museu, em 1914)